terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Manual para suicídio, parte 1.

chegar em casa,
tirar os sapatos, a camisa,
não olhar para os lados, comer e
assistir tv.

"Boa noite, amor, como foi o trabalho?"
e você pensa que uma pergunta tão idiota
merece ficar sem resposta.
"Nada demais. Tô assistindo televisão"
Acender um cigarro, cerveja na mão,
sem papo e sem conversa.

Acordar a noite, suado e taquicárdico,
ódio e desespero na mesma cama,
vontade de ir embora ou de matar a mulher,
vontade de sentir o gosto de um cano de 38,
vontade de fazer não sei o que,
que não seja ali, que não seja dormir.
Porque você não consegue, e sabe que

amanhã é um novo dia
a manhã é um novo dia,
a manhã é um cataclisma,
e sua vida caminha rumo ao inferno.

"Abandonais toda a esperança vós que entrais."
Que na verdade é só o sinaleiro vermelho vermelho vermelho,
no carro, já pensando em se matar às oito da manhã.
Tomar um café insípido, ver pessoas insípidas,
o ar tem um cheiro de morte, que é só o ar condicionado ligado ao máximo,
pensar nas oito horas como oito horas inteiras.

resolver problemas criados,
comer isopor em forma de comida,
dar sorrisos em forma de isopor,
pensar que tudo isso não há fim.

Pensar no sexo forçado e sem gosto da noite,
e na televisão, sempre lá.

e chegar em casa,
e tirar os sapatos, a camisa...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Post Note.

Acordei querendo ir embora,
Sem dinheiro, malas ou música,
e sem dizer nada pra você.

Porque enquanto você esta Lá,
não há Sol,
e eu fico só,
só,
sozinho.

Mais sozinho que meu violão, quando estás por aqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quase-Homem.

Antes de tudo, não se importem com minha identidade. Não liguem pra quem sou, para meu nome. Sem registros, marcas ou certidão de nascimento. Sem crédito, conta, propriedade ou qualquer sinal de reconhecimento por parte de parentes e amigos. Estas coisas são mentiras, não lhe dirão quem eu sou, embora você possa crer que sim. Peço-lhe para preocupar-se, ao ler, apenas com minha individualidade. Ou, melhor, ainda, preocupe-se apenas com a sua. Tire de seus ombros sua aparência por alguns momentos, segure a respiração se quiser. Esteja sozinho. E escute.

Eu deveria começar dizendo que sou, já fui, ou virei a ser um homem. Pode parecer óbvio, mas não é. Há alguns anos eu não me achava um homem. Não tinha um emprego, futuro, muito menos responsabilidades. Haviam esperanças e sonhos, mas mesmo estes eram vagos, abstratos. Minha voz gritava apenas pela urgência de estar vivo, minha vontade de viver. Viver tão rápido quanto seria minha morte. Sobrevivência, nada mais.
Eu não pensava em mim como um homem. Me diziam que eu não tinha nada. Me chamavam de moleque. Me diziam que um homem tem planos, sonhos e investimentos. Me diziam que um homem sofre a vida inteira pra saber quem realmente é. Me diziam que eu deveria montar uma família, arrumar um emprego, ser promovido. Eu digo que tudo isso é mentira. Merda, balela. Eu digo que é tudo uma mentira montada através de séculos de baboseira memorialista esgotada, um grande plano para manter-te calado, chamado sociedade contemporânea. Quer saber quem você realmente é? Quer saber o que é um homem? Olhe para os pêlos que te crescem por todo o corpo. Olhe para suas unhas mal cortadas, que parecerão garras em um futuro próximo, olhe para seus caninos. Olhe para dentro da calçam, e verá um homem. Isso, meu amigo, é um homem.

O que me leva a um questionamento banal, mas sutil: Como podeos acreditar na pretensão de que somos mais do que animais? Seriam os prédios, as corporações? As armas, a medicina? A História, a indústria farmacêutica? São essas as coisas que nos fazem humanos? Ou seriam essas as coisas que roubam nossa humanidade? Eu digo que sim. Digo que não precisamos de Viagra, Vicodin e Rivotril para viver. Digo que não precisamos saber que foram Quéops, Tutancámon e Ozymandias. Digo que não precisamos saber de Demerol, ou clínicas de reabilitação dos famosos. Seja um um Urso. Seja um leão, um coiote. Seja um leão, e serás um homem. Pois enquanto os urubus que se colocaram acima de você nesta hierarquia doente brincam de ser grandes homens à suas custas, na maioria das vezes serás apenas um rato. Suprimindo nossos instintos de rebelião, individualidade e livre arbítrio para saciar necessidades criadas. Quase-Homens é o que somos. Quase-Homens é o que tendemos a nos tornar. Nos passam valores morais a priori honestos, que ao nosso crescer mutam-se e transformam-se na típica imoralidade cristã que vemos em senadores, empresários, jornalistas, pastores e os demais que controlam e brincam com nossa alma. Culpam Deus por seu egoísmo e imoralidade, dizem que Ele nos quer obtusos e calados. Pregam "Sua" palavra em cada esquina, clamam fazer "Sua" vontade em frente à um microfone, dizem que há um plano. E é claro que há um plano, o mais simples de todos. Eles querem que você desista de ser o que nasceu pra ser, e se torne o que foi ensinado a tornar-se. Te fazem desistir de ser humano, fecham seus olhos, tampam seus ouvidos, cortam suas garras e suas presas. Te amestram, com um microfone e um livro.


Pois quando eu fecho os olhos, quando tampo os ouvidos e cerro minha boca, o que vejo é um mundo ideal, onde recuperaríamos o que os nossos primeiros antepassados perderam para seu primeiro rei. Em um mundo ideal, eu vejo a verdadeira ética humana ressurgindo das cinzas e substituindo violentamente o que nos ensinaram a ser, crer. Destruiríamos farmácias, Igrejas, cadeias, escolas, supermercados, monumentos, hotéis e hospitais. Mataríamos por simples instinto, raiva e ódio nossos domadores e adestradores, que por tanto tempo nos calaram e usaram. Seríamos bons por natureza, nos tornaríamos o que nascemos pra ser: Selvagens, instintivos, livres!

Prestaríamos atenção ao que importa e nada mais: Dor, Sexo, Fome, sem distrações, sem luxos e sem tempo. Não seríamos morais ou imorais. Seríamos amorais, como todo o universo. Amorais como Deus, se ele existisse. Amizade, amor, palavras como estas poderiam achar seu verdadeiro significado, sem segundas ou terceiras intenções. Seríamos animais perfeitos, belos como nada no universo é. Entenderíamos nossa posição no mundo e no universo como simples formas de vida, sem complicações ou teses existenciais. Animais perfeitos, capazes de sentir pensar e refletir, mas ainda sim fiéis à si mesmos, à sua identidade.

Abro os olhos de novo, e vejo e ouço gente educada. Dor inventada, sexo forçado, fome em excesso para muitos e inexistente para poucos. Pessoas que se tornam o que lhes ensinam a ser, tampando com o vazio de um razão sem lógica seus instintos, suas verdadeiras emoções. Quase-Homens, que não sobreviveriam sem seus donos. É só o que vejo, até quando me olho no espelho.

Carteiras de identidade, CNH, Placas de carro. Números e números, que muitos alegam ser nossa própria identidade. Quem somos? Nossos empregos, nossos carros e nossas certidões, atestados, contas, empréstimos, ações sonhos e investimentos. Essa é a nossa identidade, e nada mais. Pois individualidade falta ao Quase-Homem. Somos exatamente ninguém, e adivinhe para onde estamos indo.

Exatamente.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Post Scriptum.

"Lately I've been hard to reach. I've been to long on my own".



Nunca quis me acostumar em ser sozinho,
nem gostar de sentir saudade do teu cheiro.
Mas aqui estou, gostando da solidão.
e me acostumando com seu perfume, que não vem.
Não vem.
e não se vai.

domingo, 1 de novembro de 2009

de vez em vez

verte dá'me vertigem

sorri... coro logo

que petróleo algum pague

és estrela e eu tão terra

de tanta lava amarga

remoi adentro

chove

brota água:

mata a sede,

nascem frutos

de vez em vez quase acredito.

mas és tão estrela.

e ainda de madrugada ouço espíritos:

"if people were rain, I was drizzle and she was hurricane"

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Kharma ruim.
Kharma ruim, e porra de dia.
E aqui dentro, dentro de tudo, não consigo mais fingir aflição.
Pois o peso do hábito amortece qualquer novo sofrimento.

Sei só que lá fora a chuva bate mesquinha.
Ou será minha alma, que desliza em gotas de poluição?

sábado, 10 de outubro de 2009

Agora é assim: Quando me chamam, é só não como resposta.
Mas olha só, Mas olhem só!
Não é engraçado, HILÁRIO até?
é pobreza de espírito e mediocridade,
desinteresse, tédio, é só o que se vê,
é só o que se olha, em todo cantinho de cidade.

E todo caminho, leva pra um lugar pior.
Pior não, justiça se faça:
a mesma merda de sempre, de sempre, de sempre...
e eu posso sangrar o pescoço, e o tédio não passa,
posso assistir tv, mas tv não tem graça;
a mesma coisa de sempre, de sempre, de sempre...

Nem mesmo teus sorrisos, e seus sorrisos, os sorrisos daquela outra,
nem mesmo nada disso me adianta:
morro de tédio crônico, alojado em alguma parte da vida
Ninguém sabe de remédio, pois esse remédio não se compra,
e ninguém sabe de macumba, pra curar a maldita ferida.
não resta nem esperar, esperar o trem (tempo) passar,
e quem sabe trazer alguma cor.

Só não traga preto branco e cinza, porque essas eu conheço de cor:
Eu estarei aqui, é claro, é obvio.
Fazer o quê.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Back to Black.

Andava sem motivos para escrever algo fora do meu projeto de romance esses tempos. Me parece que não há nada mais a dizer. Acho que minha praticidade anda afetando meus instintos de escritor: que Deus, ou seja lá quem for, impeça, por favor.
Hoje porém escutei algo que me interessou bastante. Algo sobre mim mesmo, é claro. Estava por aí, na casa de alguém, preparando-me para uma noite curta, agradável e regada à laranja mecânica. Conversávamos sobre mim, ou seja, nada de demasiadamente importante. É quando, entre um xingamento, uma crítica feita com um sorriso nos lábios e quem sabe o que mais, ouço dizer:
"Minha mãe diz que você é triste. Tem algo em você, bem no fundo... Como se fosse sua áurea, meio manchada, sei lá."
É claro que a primeira reação foi uma risada, seguida de um sorriso despreocupado. Eu não acho que tristeza seja um estado que possa chegar ao seu âmago. E por favor, não confundam essa afirmação com algo saído de um livro barato de auto-ajuda. Eu creio na tristeza como algo que já faz parte de nós, assim como a ânsia de sofrimento, e a vontade de ser feliz. Como estaria minha áurea manchada de tristeza, se ela, entre outras coisas, é formada disto? Deixei pra lá. Não era próprio o clima para curtas auto- explorações de caráter duvidoso.
Mas agora são quatro da manhã, está frio e eu posso me permitir. Será mesmo minha alma manchada? Eu imagino piche sendo jogado em um prisma que acaba de catalizar um feixe de luz branca. Afinal, não posso ser descrito como um poço de otimismo e auto-complacência. E é claro, seguindo esta linha de não-lógica, chega-se a pergunta 'De onde vem o piche? Quem te manchou assim? Porque?'
Mais uma vez consigo achar alívio na resposta universal para todas as questões similares que assolam a pequena trégua armada que eu consegui dentro de mim: Foda-se.
E é praticamente isso.

sábado, 4 de abril de 2009

Comédia, divina?

No meio do caminho de nossa vida,
nos achamos, infelizmente,
no meio, e não em uma selva escura.

E estando no começo, no meio de um milhão de dúvidas,
Sem Virgílio para guiar a pobre alma através do inferno,
Sem Beatriz esperando em um paraíso qualquer,
O que fazer?

Quando a selva escura, ou os portões do inferno se fazem por demais reais,
lembrar-se de uma coisa pode ser a diferença:
Andar ereto não é sempre fácil, mas é como se deve andar.
Afinal, dizia um velho bêbado 'O importante é como se caminha através do fogo'
e enfrentar as escolhas da vida nunca teve nada a ver com sobriedade.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

uma questão de espírito.

Para todos aqueles que demonstraram -se amigos nos momentos em que minha matéria quase tornou-se nada mais que fumaça.



Lúcio não
se deu conta, nos primeiros instantes, de que havia tornado - se algo entre o invisível e o imaterial. Se levantou do computador no quarto onde morava de aluguel na casa de seus avós, e foi até a varanda pra pegar um pouco de ar. Foi então, com uma brisa um pouco mais forte do que o habitual, que sentiu que suas pernas se separavam do corpo, não sem uma certa relutância, mas como se um pouco de fumaça fosse afastada de um longo fio que sai da ponta de um cigarro charuto bem aceso.

Ao correr para o banheiro, percebeu que não era nada além disso. Um pouco de fumaça tão rala, tão transparente, que era a todos os efeitos invisível. Só poderia - se vê - la talvez olhando bem diretamente, ciente de que havia algo alí. Lúcio não emitia nenhum rumor, gritava de pavor mas era como se as vibrações não fossem simplesmente formadas. Portas e paredes não eram obstáculos e as demais pessoas da casa não notavam sua presença. Depois do susto, Lúcio começou a perceber que nunca em sua vida havia se sentido tão bem.

Era difícil porém manter toda a matéria que agora formava seu corpo unida. Ao sair na varanda pela segunda vez, percebeu que quanto mais uma parte de si se afastava, menos ele a sentia, e presumiu que logo logo, se não se esforçasse ao máximo, simplesmente desapareceria no mundo. Manter -se inteiro requeria uma força de vontade que Lúcio nunca tivera quando possuía um corpo, mas que se renovava cada vez que ia para o alto, cem, duzentos, trezentos metros, e observava a cidade do alto. A vontade de manter-se vivo, mesmo ciente de que aquela vida era no mínimo diferente, era algo novo para ele.

A primeira mina que atingiu o espírito- fumaça de Lúcio Montez foi enterrada por si mesmo, quando, na tarde seguinte, flutuou até a casa de sua namorada para tentar contar - lhe o que acontecera. Ao passear pelas ruas, de manhã, Lúcio percebera que não distinguia mais as pessoas, assim como seres humanos têm dificuldade em distinguir seres de outras raças. Você sabe que um pitbull é um pitbull, e não um dálmata, mas dificilmente distinguirá dois dalmátas que viu apenas uma vez na vida. Em vez da aparência física, Lúcio notava o halo de fina fumaça que envolvia cada pessoa, que era tão invisível que que lúcio nunca pensaria em enxergar.

Ao chegar na casa de sua namorada, Amanda, flutuou facilmente até a janela de seu quarto apenas para descobrir que era impossível se comunicar com aquela ruiva de olhos castanhos. Por momentos, após a descoberta, Lúcio deixou- se dissolver quase inteiramente, sentindo-se cada vez mais leve. Sentia que chorava, e que isso o fazia cada vez mais fraco e desprovido de matéria. Momentos antes de perder a sensibilidade de todo o seu corpo, Lúcio se recompôs e começou a vagar sem rumo, segurando a si mesmo com toda a força de vontade que ainda lhe restava.

Passaram -se vários dias até que o rapaz feito de fumaça criou coragem suficiente para voltar para seu quarto dos fundos. A segunda mina em que pisou como espírito, amputou o que lhe restava da alma que um dia sentira como parte de si.

Seu quarto nada mais era que um cômodo liso e branco, sem vida e sem matéria alguma, assim como o próprio Lúcio. Despido de todos os pôsteres, livros e apetrechos que em anos havia juntado, nem a cama restara. As pessoas da casa agiam como se simplesmente Lúcio Montez jamais tivesse existido. Com um grito silencioso e, a todos os efeitos, materialmente inexistente. Lúcio foi até a rua e alí, decidiu fazer o que lhe parecia mais lógico. Apagar aquele último rastro de fumaça que um dia fora um ser humano cujas lembranças são equivalentes àquela matéria da qual agora é feito, e que não tinham alguma força que as segurasse e portanto, dissiparam -se. Antes de desaparecer completamente, porém, enquanto vertia lágrimas inexistentes e seu sangue imaterial jorrava para todos os cantos do mundo, olhou para frente e viu que uma figura o fitava fixamente, sem jamais mover o olhar.

A figura, que parecia tão familiar a Lúcio, sorriu quando Lúcio encontrou -lhe os olhos. Em um súbito espanto, a curiosidade de saber porque aquele garoto conseguia enxergá -lo manteve Lúcio unido. O rapaz, sem dizer nada, apenas começou a andar, nunca olhando para trás, parecendo certo de que aquele espectro o seguiria. E foi o que Lúcio fez.

Chegou a um lugar não bem definido em sua visão, onde o garoto sentou -se ao lado de várias figuras que aparentemente esperavam. Todos sorriam, mas ninguém emitia som algum. Não era necessário, pois Lúcio reconhecia cada pessoa, cada halo de leve fumaça. Reconhecia os olhos verdes de um, os cabelos longos, loiros, pretos e multicolores de outros. Reconhecia o sorriso de cada pessoa, os gestos e a respiração. Sentia a presença de pessoas que estavam longes demais, mas que nunca se afastaram. Enquanto ia em direção a um grande espelho no centro do espaço, parecia -lhe que um sorriso aflorava em seus lábios de ectoplasma.

Olhou para todos, e em seguida para o espelho. Desta vez, ao perceber que o contorno de dois olhos negros e de um nariz pequeno apareciam aonde, aparentemente, não havia nada, não houve espanto algum.

Apenas um sentimento de gratidão que não precisaria de matéria ou palavras para ser entendido.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vida !

Acorde: Está na hora de voltar a sua vida medíocre, seu trabalho medíocre, seus amigos medíocres!

Tome banho: Tente arrancar essa couraça de sujeira e de hipocrisia que cobre seu peito, lave com insanidade seu rosto para que saia de uma vez por todas sua máscara ridícula de bom cidadão! ( porco imundo ! )

Se alimente: Coma das piores comidas. Sinta suas entranhas retorcerem. Coma vômito com leite, beba sangue com café e saboreie a hostilidade de um mundo podre!

Trabalhe: Se escravize em busca de dinheiro, em busca de conforto, passe horas entediantes, caia na rotina e perceba que você é apenas mais um inseto insignificante no meio da natureza suprema!

Volte pra casa: Sinta que nada e ninguém no mundo se importa com você, todos te odeiam, todos te exploram, todos te machucam. Você só é mais um bastardo, um aborto da natureza!

Durma: Tente desligar sua mente de tudo isso que você se tornou, de todas as merdas que você já fez, de todas as porcarias que você já falou e de todos os sonhos que você nunca alcançará!

Morra: O veneno que corre em suas veias te dará 20 minutos de prazer, de orgasmos múltiplos, fará se sentir melhor, mas depois...

... Eu te espero, te darei a mão e te guiarei ao melhor lugar já visto, te mostrarei o que realmente é vida!

Espero-te no inferno!


DON.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Diário dos sonhos, 1.

não haviam motivos para que eu fizesse algo como aquilo... Mas não haviam motivos que me parassem. Não era a fome, nem o masoquismo. Era algo diferente. Era uma necessidade que eu nunca havia sentido ou ouvido falar, algo que me enchia de expectativa e de terror ao mesmo tempo.
Porque? Não pergunte isso, por favor.
Depois de vários minutos, horas, quem sabe? Depois de muito tempo, pelo que me pareceu, decidi ir em frente.
Levei a mão até a boca, e arranquei o primeiro pedaço de carne.
O gosto não era nada parecido com o que eu havia provado até aquele momento. Quando mastiguei senti, na maioria da textura, apenas pele dura, da palma da mão, e alguns tendões que eu havia arrancado a força do dedo indicador. O sangue esquentava minha língua com uma tepidez que me lembrava sopa, ou café, seu gosto já me era conhecido, assim como o é a todos. A carne, por sua vez, e a pele, principalmente, tinham um gosto que nunca tinha sentido na vida.
Não era ruim, parecia carne de sol.
Me sentei. Fazia parte do que eu deveria fazer. Foi um pouco difícil e até patetico, mas consegui, após inúmeras ridículas tentativas, arrancar um pedaço da parte de baixo do maior dedo do pé, com as unhas da mão esquerda, e levá-lo até a boca.
Não o fazia com avidez, tanto menos sentia a mínima repulsa. Era como ver nuvens passando, ou tomar um bom sorvete. Não saberia explicar.
Por algum tempo aquilo foi adiante sem pressa e numa calma irreal. minhas unhas começavam a se destacar dos dedos. estava ensopado de sangue até os cabelos, não conseguiria me levantar nem se quisesse.
Então, a outra parte do acordo que havia feito tempos antes, aconteceu repentinamente. Do solo rachado, das árvores mortas, das ruas congeladas começaram a aparecer vários, milhares de porcos. Porcos que rastejavam, ou corriam, todos emitindo o mesmo som.
O som da minha resignação.
Me deitei, meus dentes tão sujos de sangue negro e amargo, com gosto de ferro e alumínio, que pareciam mergulhados em vinho.
As mordidas de todos eles não eram como as minhas. Doíam.
Doíam como o céu que caía por baixo do peso de todos.
Doíam como... ah , deixa pra lá.

sábado, 24 de janeiro de 2009

em qualquer lugar.

Se fôssemos realmente
feitos disto que vemos,
que tocamos e procuramos
pela vida inteira.
Como estaríamos aqui então,
e em todos os lugares, quando quiséssemos?
Como sobreviveríamos à morte do que chamamos
Aqui?
Como estaria você aqui, comigo,
mesmo quando fogo e ar nos separam,
e suas palavras não chegam a mim de lugar nenhum?
Eu não sou o que me toca, não quem te chama agora.
Sou etéreo, efêmero porém constante.
Sou o que faço, quem brilha no escuro e não precisa
de olhos pra ver.
Sou aquele rastro que deixei em você quando saí.
Para sempre, mas não
eternamente.