terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Manual para suicídio, parte 1.

chegar em casa,
tirar os sapatos, a camisa,
não olhar para os lados, comer e
assistir tv.

"Boa noite, amor, como foi o trabalho?"
e você pensa que uma pergunta tão idiota
merece ficar sem resposta.
"Nada demais. Tô assistindo televisão"
Acender um cigarro, cerveja na mão,
sem papo e sem conversa.

Acordar a noite, suado e taquicárdico,
ódio e desespero na mesma cama,
vontade de ir embora ou de matar a mulher,
vontade de sentir o gosto de um cano de 38,
vontade de fazer não sei o que,
que não seja ali, que não seja dormir.
Porque você não consegue, e sabe que

amanhã é um novo dia
a manhã é um novo dia,
a manhã é um cataclisma,
e sua vida caminha rumo ao inferno.

"Abandonais toda a esperança vós que entrais."
Que na verdade é só o sinaleiro vermelho vermelho vermelho,
no carro, já pensando em se matar às oito da manhã.
Tomar um café insípido, ver pessoas insípidas,
o ar tem um cheiro de morte, que é só o ar condicionado ligado ao máximo,
pensar nas oito horas como oito horas inteiras.

resolver problemas criados,
comer isopor em forma de comida,
dar sorrisos em forma de isopor,
pensar que tudo isso não há fim.

Pensar no sexo forçado e sem gosto da noite,
e na televisão, sempre lá.

e chegar em casa,
e tirar os sapatos, a camisa...